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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Identidade

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Eu não sou eu.
Não posso ser eu.
Não dá, não consigo.
Eu não sou eu.
Eu sou você, eu sou aquele, eu sou a estrela.
Sou uma árvore,
sou um papel,
um inseto.
Eu não posso ser eu.
Eu sou qualquer coisa viva,
qualquer que se mexe, se alimenta.
Qualquer coisa que sofre, qualquer coisa que ama.
Eu não posso ser eu.
Eu me altero, eu me esmero,
eu corro, eu espero.
Mas não sou eu.
Sou qualquer coisa que não eu, ou eu.
Ou você. Eu sou eu não sei.
Ser... Não sei.

2 comentários:

  • 22 de setembro de 2010 às 21:26

    ei, vim aqui só pra agradecer o comentário e dizer que desisti do wordpress (muita chateação) e voltei pro meu blog antigo.
    mas sobre o poema:
    gostei do "eu sou qualquer coisa viva", porque "eu" pressupõe existência, mas dizer que sou "coisa" não implica em ser "viva". então, sei lá, ficou bonito. ah, e gostei do "ser... não sei". isso resolve tudo. :)

  • 2 de outubro de 2010 às 13:23

    Os mistérios do ser e do não-ser... E são tantos! Este Gato que vos fala bem que os reconhece, assim, meio de longe; assim, meio sem os reconhecer.

    Uma coisa que se pode pensar sobre essa poesia é que SER, no seu sentido mais amplo, jamais pode ficar resumido a uma única pessoa, a uma única entidade: se SOU, não POSSO ser EU, SÒ eu: sou tudo, sou todas as coisas. Nem é uma questão de querer; como dizes, não dá, simplesmente não se consegue.

    A interpretação anterior é a que mais gosto. Mas ainda posso pensar numa segunda, essa, sim, de caráter menos "felizinho": é uma fuga. A constatação de se perceber ser humano, de se descobrir EU, num mundo tão mais amplo, tão maravilhoso, e nós sendo um EU-humano assim, vezes tantas, tão sem graça, seria algo que nos impeliria a querer ser outras coisas, as coisas que nos circundam, belas ou não - porque seria BEM mais fácil. A ilusão de SER a árvore, SEM sê-la, afasta-me do desprazer de me saber sendo eu mesmo; permite-me não me afogar no caos das verdadeiras coisas que eu SOU, mas que nem sei direito como ser.

    Enfim: muito boa poesia; incita bastantes reflexões. Perdoe o caráter quiçá por demais analítico deste gato metafísico, principalmente assim, deste modo, numa primeira (de muitas) visitas.

    Um olhar felino pra vossa mercê.
    Até a próxima.