Hey, Jude, refrain
Don't carry the world upon your shoulders"
(The Beatles - Hey Jude)
Não
sei onde ouvi isso, ou de quem ouvi, mas lembro de ter ouvido alguém,
algum dia, dizer: as pessoas não gostam de quem é triste. Como se
ser triste fosse uma opção. Se as pessoas não gostam de quem é
triste, por que alguém iria escolher ser? Nunca quis ser triste.
Nunca quis ter essa aura de melancolia ao meu redor. Tudo que eu
sempre quis foi ser uma pessoa normal, com gostos normais, amigos
normais, família normal, mesmo sem saber ao certo o que é ser
normal - onde termina o saudável e onde começa a loucura? Por que
não consigo ser normal, ou feliz, se é que ser feliz é ser
normal...? De qualquer forma, nos últimos dois dias cheguei à
conclusão: as pessoas não gostam de quem é triste. Não gostam de
quem tem um problema, de quem não consegue lidar com esses
problemas, de quem precisa de ajuda. Elas simplesmente se afastam. A
sociedade exige que você seja bem-resolvido, tenha certeza do que
quer, não dependa de ninguém, como se todo mundo pudesse ser
auto-suficiente. Por que é tão difícil se inserir nesses
padrões?
O
mundo está de cabeça-pra-baixo. É uma correria, uma competição,
uma hipocrisia sem fim. Ser triste é inevitável nesse mundo de
cão. Ser triste não é como se se tivesse uma doença sem
cura. Basta um sorriso, um abraço ou uma palavra que acalente e toda
a dor se esvai, ao menos momentaneamente. E a vida não é assim?
Constituída de fragmentos, de pedaços que se encaixam e vão
formando essa colcha de retalhos, alguns coloridos, outros meio
desbotados... Só queria uma colcha de cores mais vivas.
E no fim das contas, todos são tristes, e mais ainda, todos têm problemas... o mundo exige que sejamos disfarces.
Verdade. Ninguém gosta de pessoas tristes. Todos querem ver sorrisos em pessoas sempre bem resolvidas. E não é ruim. É natural, eu acho. A tristeza, essa que é intrínseca, que cria raízes e se transforma em um jeito de ser, costuma ser característica daqueles que pensam demais, questionam demais, que sentem demais...daqueles que por algum motivo decidiram abrir mão da ilusão de felicidade, mesmo que medíocre, e aprenderam lidar com a tristeza. Os tristes são fortes. Sofrem sem opção, porque simplesmente são e pronto. E a opção da ilusão já está tão distante que nem é opção. Então eles seguem, contrariando as expectativas daqueles que só gostam de ver sorrisos. Um abraço resolve, temporariamente, assim como um colo, um beijo, um aperto de mão, mas essa tristeza nossa de cada dia é incurável...já é parte.
Poxa, Mizraim, você falou muito bem! Acho que a tristeza faz parte, tem momentos que você se sente perdida, mesmo tendo pessoas ao seu lado.. Mas quando se é triste o tempo todo, acho que é mais complicado. A vida é feita desses opostos mesmo, o importante é conseguir ser feliz e triste, nas suas doses necessárias e saudáveis.